Comportamento

Enem inclui questão sobre homofobia

Na prova do Enem realizada nesse sábado, foi colocada uma questão sobre homofobia. A ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – elogia a inicitiva.

“É gratificante ver as deliberações da Conferência Nacional de Educação sendo respeitadas, e esforços sendo feitos para contribuir para o cumprimento do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos de LGBT”, diz  o presidente Toni Reis em mensagem encaminhada hoje ao Ministério da Educação (MEC) e ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A AGLBT congrega 237 organizações congêneres e objetiva a defesa e promoção da cidadania desses segmentos da população.

Eis a questão:

“Pecado nefando” era expressão correntemente utilizada pelos inquisidores para a sodomia. Nefandus: o que não pode ser dito. A Assembleia de clérigos reunida em Salvador, em 1707, considerou a sodomia “tão péssimo e horrendo crime”, tão contrário à lei da natureza, que “era indigno de ser nomeado” e, por isso mesmo, nefando.

O número de homossexuais assassinados no Brasil bateu o recorde histórico em 2009. De acordo com o Relatório Anual de Assassinato de Homossexuais (LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis), nesse ano foram registrados 195 mortos por motivação homofóbica no País.

A homofobia é a rejeição e menosprezo à orientação sexual do outro e, muitas vezes, expressa-se sob a forma de comportamentos violentos. Os textos indicam que as condenações públicas, perseguições e assassinatos de homossexuais no país estão associadas

A)    à baixa representatividade política de grupos organizados que defendem os direitos de cidadania dos homossexuais.

B)     à falência da democracia no país, que torna impeditiva a divulgação de estatísticas relacionadas à violência contra homossexuais.

C)     à Constituição de 1988, que exclui do tecido social os homossexuais, além de impedi-los de exercer seus direitos políticos.

D)    a um passado histórico marcado pela demonização do corpo e por formas recorrentes de tabus e intolerância.

E)     a uma política eugênica desenvolvida pelo Estado, justificada a partir dos posicionamentos de correntes filosófico-científicas.




Campanha quer reduzir aceitação social de agressões a mulheres

Fonte: Brasília Confidencial 
29/05/2010

AYRTON CENTENO
    Quarenta por cento das mulheres assassinadas foram vítimas de seus próprios maridos, companheiros ou namorados, quase sempre dentro de um quadro de constantes abusos. Mas este percentual, em alguns casos, pode chegar até 70%. É o que indicam estudos realizados na África do Sul, Austrália, Canadá, Estados Unidos e Israel e que constam do Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, da Organização Mundial de Saúde (OMS).  Em outros países, a situação é semelhante.  Isto só ocorre porque a sociedade ainda tolera a agressão contra as mulheres. Para atacar esta complacência, um coletivo de entidades brasileiras lançou ontem, em Porto Alegre, a campanha nacional “Ponto Final na Violência contra Mulheres e Meninas”. Optou-se pelo 28 de maio por ser o Dia  Internacional de Ação pela Saúde das Mulheres. Na mesma data, houve iniciativas iguais na Bolívia, Haiti e Guatemala.
    “O diferencial da campanha é que, agora, o foco não está voltado para a adoção desta ou daquela política pública, mas para a sociedade em geral”, explica uma das coordenadoras da campanha, a psicóloga Maria Luísa de Oliveira, da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos.

  “Queremos reduzir a aceitação social de certos valores contra a mulher, atrás dos quais estão muitas vezes o machismo e o racismo. É preciso que a violência de gênero deixe de ser percebida pela sociedade como algo normal ou um fenômeno natural, mas como algo que foi construído através dos tempos”, acentua Maria Luísa.

  Os cartazes da campanha procuram questionar a dificuldade de homens e mulheres lidarem com o assunto. Em um deles, aparece um jovem como se estivesse refletindo sobre as situações difíceis – sair de casa, desemprego, separação – que enfrentou com coragem e logo após a pergunta: “Se tudo isso é natural, porque não consigo encarar a violência contra as mulheres?”
    Embora haja avanço no desenvolvimento das políticas específicas, o panorama ainda é bastante desfavorável.

“No Rio Grande do Sul, por exemplo, temos 500 municípios e menos de 20 delegacias da mulher”, nota Maria Luísa.

    De acordo com a Organização Mundial da Saúde – seu relatório de 2002 é encarado como a fonte mais confiável e ainda atual — a agressão, mesmo quando cessa, deixa muitas seqüelas. Depressão, propensão ao suicídio, alcoolismo e drogadição são algumas delas.

  Em Porto Alegre, a vila Campo da Tuca, considerada uma das áreas mais vulneráveis da cidade, foi escolhida para a apresentação da campanha. Com a maior parte da população de raça negra e muitas mulheres chefes de domicílio, o Campo da Tuca já registra uma atuação intensa no tema, desenvolvida por ONGs, pela associação comunitária e por agentes multiplicadores. As ações compreendem visitas domiciliares, oficinas, debates e outras atividades. A psicóloga Maria Luísa de Oliveira, porém, observa que a violência não está presente somente em vilas e bairros carentes, mas em todas as classes, inclusive na elite econômica.

“Nas classes populares, ela apenas é mais visível”, adverte.




Modernidade


Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!

Estamos construindo super-homens e super mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é 'entretenimento'; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o

apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro,você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem

resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante,

neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, autoestima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"

Frei Betto