quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

247: Caçada a Lula marca um país conflagrado

Fonte: Brasil 247

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As cenas do conflito durante o ato de defesa da Petrobras não expuseram apenas um país dividido entre os que defendem o atual governo e a oposição; enquanto o ex-presidente Lula dizia que "O mais importante legado que minha mãe me deixou foi o direito de andar de cabeça erguida e ninguém vai fazer eu baixar a cabeça neste país", a oposição tenta abrir a CPI do BNDES, além de tentar incluir  os contratos do setor elétrico nas investigações da Operação Lava Jato; "Tornar Lula inelegível, para as forças de oposição, é atalho mais certo para a alternância no poder em 2018", revela a colunista do 247, Tereza Cruvinel
25 de Fevereiro de 2015 às 14:28


Por Tereza Cruvinel

O dia começou cheio de notícias do "fim do
mundo" em um país tropical bonito por natureza mas agora vincado pela intolerância e cada vez mais dividido pelo muro do "nós e eles". As fotos dos enfrentamentos físicos na porta da ABI durante ato em defesa da Petrobrás e do ex-ministro Guido Mantega sendo expulso de um hospital por pessoas exaltadas são apenas o emblema do que se passa no leito largo da sociedade, onde a questão política divide até as famílias. Enquanto isso, os ativos do país vão se erodindo.

No ato de ontem, Lula fez o que mesmo que em 2005, quando cresceu o movimento por seu impeachment: avisou que não se mataria como Getúlio, não renunciaria como Jânio, não seria deposto como Jango nem sofreria o impeachment como Collor. Chamaria o povo de casa em casa para defender a vontade popular que lhe dera o mandato. E o fez porque sabe que, mais do o impeachment de Dilma, busca-se a sua inelegibilidade em 2018. Isso é que resume sua frase desafiadora de ontem: "O mais importante legado que minha mãe me deixou foi o direito de andar de cabeça erguida e ninguém vai fazer eu baixar a cabeça neste país. Honestidade não é mérito, é obrigação. Eu quero paz e democracia, mas se eles querem guerra, eu sei lutar também".

Lula sabia, há alguns dias, que as investigações da Operação Lava Jato miravam as obras do setor elétrico. Exatamente porque a maior parte dos contratos com empreiteiras para a construção das grandes hidrelétricas do norte do país foram firmados em seu governo. Com a descoberta de irregularidades nestes contratos ele poderia vir a ser responsabilizado e, se condenado, ficaria inelegível. Hoje circula a notícia de que os acordos de delação premiada que estão sendo negociados entre o Ministério Público Federal no Paraná e os executivos de empreiteiras presos podem incluir o setor elétrico. Eles vêm resistindo, diz a colunista Monica Bérgamo, da FSP, mas a pressão dos procuradores é grande. E nesta altura, tudo o que desejam "é colocar um ponto final da situação em que se encontram", nas celas do juiz Moro.

Quase todas as grandes empreiteiras participam dos consórcios montados para realizar aquelas obras monumentais, como a usina de Belo Monte e as de Jirau e Madeira. Belo Monte é o primeiro alvo das investigações.

Para "pegar Lula", vem sendo articulada também no Senado a CPI do BNDES. Ontem alguns deputados da oposição discursaram contra o financiamento de obras em Cuba, Moçambique, Angola, Equador, Argentina e outros países. Em verdade, o BNDES nem poderia financiar obras em países estrangeiros. O que ele fez foi aportes financeiros para as empresas brasileiras que foram contratadas para obras como o porto de Mariel, em Cuba, mediante a condição de que todos os insumos sejam comprados de indústrias brasileiras, gerando emprego e renda dentro do país. A desejada CPI do BNDES quer investigar estes financiamentos e o papel que Lula teve na contratação de tais obras, quando era presidente, com sua diplomacia presidencial ativa.

Tornar Lula inelegível, para as forças de oposição, é atalho mais certo para a alternância no poder em 2018. Se Dilma fica, com o governo cercado e imobilizado, terminará como uma pata manca, sem condições de influir na sucessão. E se Lula estiver fora do páreo, será mamão com açúcar.
Jogo é jogo, também na política. Mas o limite dos jogos de poder é o interesse coletivo. Se para ganhar for preciso destruir os ativos do país, como a Petrobrás, as empreiteiras e suas associadas, deixa de ser jogo e vira guerra. E nas guerras, o povo sempre perde.