Fonte: www.tijolaco.com
sábado, 31 julho, 2010 às 22:04
O post que fiz mais cedo com o compromisso da Dilma com a educação – inclusive com a universidade pública, me fez lembrar que recebi por e-mail carta da professora doutora da Coordenação de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Leda Castilho, enviada – e naturalmente não publicada – a O Globo em resposta à matéria do dia 11 de julho intitulada “Ensino superior, mas nem tanto”, na qual o jornal destacava aspectos negativos da instituição e omitia os novos investimentos feitos pelo governo Lula.Além da matéria tendenciosa, que se valeu de exemplos isolados para tentar desvalorizar a instituição federal, a professora da Coppe questionou a repetição desse tipo de reportagem negativa sempre às vésperas das inscrições no vestibular e por que O Globo não relata a preferência do mercado de trabalho por profissionais da UFRJ, mesmo com as precarieades que o jornal aponta.
Leda Castilho desafiou O Globo a escrever sobre as obras em andamento na UFRJ, e tocou na ferida que não interessa ao jornal carioca, principalmente nessa época de eleição presidencial, de comparar os investimentos nas universidades federais durante os anos de governo tucano e no período de Lula.
Com elegância, mas indo no ponto, a acadêmica afirmou que “se a UFRJ, na década de 1990, soube manter a excelência de seu ensino mesmo frente ao descaso e ao abandono de então, por parte do governo federal, certamente não será nesta década, marcada por muitos novos investimentos, mais verbas e novos docentes, que deixaremos de oferecer um ensino superior do mais alto padrão.”
O Globo teve que engolir essa ao achar que faria uma matéria tendenciosa sem a reação de um público qualificado como o dos profesores universitários. Com a matéria desonesta revelou o tipo de jornalismo que pratica e por que teme tanto e boicota a existência de um debate mais amplo sobre os meios de comunicação. O Globo quer continuar a fazer seu mau jornalismo impunemente. O direito de resposta que oferece é a seção de carta dos leitores, mas desde que não sejam muito incômodas como a dos professores da UFRJ. É incrível como O Globo se parece com Serra, que também evitou enfrentar a reunião da SBPC, como comentei mais cedo aqui, para não ser questionado sobre a terrível política tucana para a educ ação superior nos oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso.
A carta da profesora Leda Castilho mereceu a solidariedade da comunidade acadêmica da UFRJ, que ficou profundamente ofendida com a matéria. Os professores da mais tradicional universidade pública do país acusaram o jornal de não estar aberto à pluralidade de pontos de vista que caracteriza um jornalismo sério e de qualidade. Ivana Bentes, professora e diretora da Escola de Comunicação, responsável pela formação de futuros jornalistas, externou em carta aberta ao jornal que “uma matéria como essa fere o que entendemos como Jornalismo crítico, não editorializado, com fontes diversas, que mostra os ’dois’ lados (e os diferentes lados) da questão”. E Ricardo Medronho, professor da Escola de Química, afirmou que a matéria “representa tudo o que não se espera encontrar em um jornal da qualidade de O Globo.”
Com todo o respeito aos professores, O Globo já abandonou compromisso com o bom jornalismo, respeito à ética e qualidade há muito tempo. Nos períodos eleitorais, o jornal se excede nos padrões de manipulação com sua posições francamente contrárias ao atual governo. Não foi por outro motivo que recentemente Lula classificou de “vergonhosa” a manchete do jornal que sugeria que o Brasil abandonasse o pré-sal por conta do recuo europeu e dos EUA na exploração de petróleo após o vazamento da BP no Golfo do México.
O Globo é um jornal aético, antipatriota, desonesto e covarde. Reporduzo abaixo a carta da professora Leda como bom exemplo disso.
“Ilmo. Sr. Editor d`O Globo:
Foi com surpresa e indignação que li a reportagem (com chamada de 1ª página) de domingo, 11/7/10, intitulada “Ensino superior, mas nem tanto”. A matéria toma exemplos isolados para destacar apenas aspectos negativos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ignorando o excelente desempenho apresentado pelos seus egressos em concursos e em provas nacionais como o ENADE, desempenho este confirmado pela preferência do mercado de trabalho por profissionais formados na UFRJ.
Mostrando números oriundos de uma única fonte, a matéria ignora dados públicos disponíveis no site da PR3-UFRJ que demonstram que, em 2009, foram iniciadas e/ou licitadas inúmeras obras (salas de aula, restaurantes universitários, bibliotecas etc.), financiadas pelo programa do governo federal REUNI, de expansão das universidades federais. A matéria ignora, ainda, que a adesão ao referido programa foi voluntária e amplamente discutida nos colegiados de cada uma das faculdades envolvidas. Nenhuma decisão de aumento de vagas foi tomada de forma irresponsável. A contratação, somente em 2010, de 500 novos professores e o aumento em cerca de 10 vezes (de 3,6 para 34,6 milhões de reais), entre 2003 e 2008, das verbas de investimento repassadas pelo governo federal à UFRJ são uma prova disso.
O número de vagas nas universidades federais aproximadamente dobrou entre 2003 e 2008, como diz a matéria. É fato notório que, em empreendimentos de qualquer tipo, aumentos de tamanho/quantidade resultam em ganhos de escala. Portanto, considerando que as universidades federais agora atendem ao dobro do número de alunos, com manutenção do valor por aluno investido pelo MEC (alteração de apenas 3,8%, de R$ 15.341 para R$ 14.763), chega-se a uma conclusão diferente daquela sugerida pela matéria: levando-se em conta o ganho de escala, certamente as condições de financiamento hoje são melhores do que antes.
O campus da Ilha do Fundão tem fluxo diário de pessoas aproximadamente igual ao dobro da população da Cidade de Deus e área ocupada similar à de Ipanema e Leblon juntos. Se os índices de criminalidade mencionados na matéria forem comparados àqueles registrados nos dois nobres bairros da cidade, certamente a conclusão será de que é mais seguro transitar pelo Fundão do que por Ipanema. Por que não fazer uma matéria levantando tais dados?
Nos últimos anos, vêm se repetindo, sempre às vésperas das inscrições no vestibular, matérias negativas sobre a UFRJ n`O Globo. Por que o jornal não publica matérias extensas sobre a UFRJ também em outras épocas do ano? Por que o jornal não relata a preferência do mercado de trabalho por profissionais formados na UFRJ?
O MEC e a UFRJ estão tomando ações concretas com o objetivo de que nossa universidade continue oferecendo um ensino de alto padrão, a um número ainda maior de brasileiros. O campus da Ilha do Fundão está passando por uma revolução que o transformará, ao longo da década que ora se inicia, em uma cidade universitária de dar inveja às universidades dos países mais ricos.
Eu gostaria de desafiar O Globo a fazer uma matéria sobre as obras atualmente em andamento na UFRJ, dando maiores informações ao grande público sobre o Plano Diretor UFRJ 2020 (www.ufrj.br).
Se a UFRJ, na década de 1990, soube manter a excelência de seu ensino mesmo frente ao descaso e ao abandono de então, por parte do governo federal, certamente não será nesta década, marcada por muitos novos investimentos, mais verbas e novos docentes, que deixaremos de oferecer um ensino superior do mais alto padrão. E certamente seremos capazes de fazê-lo para um número ainda maior de brasileiros.
Atenciosamente,
Profa. Dra. Leda R. Castilho
COPPE/UFRJ
Profa. Dra. Leda R. Castilho
COPPE/UFRJ