segunda-feira, 7 de junho de 2010

1986 O ANO QUE ACABOU

Fonte: Novo Jornal

Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises

Por Geraldo Elísio

“Há três espécies de cérebros: uns entendem por si próprios; os outros discernem o que os primeiros entendem; e os terceiros não entendem nem por si próprios nem pelos outros; os primeiros são excelentíssimos; os segundos excelentes; e os terceiros totalmente inúteis”. – Maquiavel

Vou ao contrário da linha expressa no excelente livro de Zuenir Ventura. Em 1986, sem coragem para disputar uma convenção onde sabia que seria fragorosamente derrotado, Itamar Franco criou uma dissidência contra Newton Cardoso. A campanha eleitoral revelou-se das mais virulentas.

Entre outros “mimos” o então candidato a deputado federal, Hélio Costa, acusou Newton Cardoso de “estuprador”, lendo um vasto dossiê frente às câmaras de televisão. As bases de Newton não perderam tempo em rotular Itamar de “gay”. Vieram as eleições e Cardoso sagrou-se vencedor.

Com o passar do tempo, Hélio Costa foi um dos primeiros a aderir a Newton Cardoso que, posteriormente veio a ser o vice-governador de Itamar Franco por ocasião das eleições de 1988, dizem muito por interesse e interferência direta de Fernando Henrique Cardoso no processo eleitoral mineiro, quando, ao final, de novo Itamar e Newton se desentenderam novamente. Itamar, na ocasião, dono de uma inafastável antipatia dos “tucanos”, de quem dizia ser “um partido cheio de PHD"s”.

Flash back I

Antes quando da queda do período ditatorial, em Alagoas, um parlamentar nordestino, diante da disputa entre Tancredo Neves e Paulo Maluf e as manobras palacianas, inventou, em plena praça pública, diante da população presente a um comício o chamado “voto camarão”. Ou seja, pegou um desses mariscos, arrancou-lhe a cabeça e recomendou: “Não votem no “cabeça de chapa”, no caso dos demais candidatos nos acompanhem”. Queria beneficiar o doutor Tancredo Neves.

Flash back II

Inconformados com a eleição de Newton Cardoso para o governo de Minas em 1986, e a eleição de Orestes Quércia em São Paulo, no mesmo ano, peemedebistas paulistas e mineiros, diante da “impossibilidade de convivência com o “porcão e o caipira corruptos” fundaram o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) envolvendo nomes do porte de Pimenta da Veiga. Fernando Henrique Cardoso, José Serra e tantos outros emplumados de peso no “ninho”. Escolheram para símbolo partidário o tucano.

Bem que o doutor Ulisses Guimarães, o “Senhor Diretas” advertiu que o tucano “é uma ave voraz, portador de incontinência intestinal e de voo curto”. Por sua vez, o PT se deliciava com os espaços obtidos na imprensa. Naquela época, o Partido dos Trabalhadores ainda não reclamava dos jornalistas. E nem fazia menção a possíveis censuras de imprensa. “Detonava sem dó nem piedade os adversários”. Só veio a descobrir que o jornalismo investigativo incomoda quando estourou o caso do “Mensalão”.

Cenas à frente. - Porém o tempo continuou passando e houve a necessidade da então deputada estadual Marília Campos ser eleita prefeita de Contagem. Em grupo, os parlamentares petistas de Minas Gerais compareceram à Sala de Imprensa da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, acompanhados da deputada federal Maria Lúcia Cardoso, então esposa do ex-governador Newton Cardoso, e firmaram um pacto que culminou com a derrota do tucano Ademir Lucas e a eleição de Marília.

Ainda nas voltas que o tempo dá, Orestes Quércia, o chamado “corrupto caipira” pelo tucanato paulista, tomou-se de amores pela candidatura de José Serra à Presidência da República. E em Minas, “o corrupto porcão” aderiu sem o menor esforço à candidatura de Antonio Anastasia. Ninguém protestou. Parece, todos esqueceram a gênese de 86. Itamar é oferecido vice de José Serra e não diz nem sim nem não. Parece, “se o cavalo passar arriado” ele tende a montar.

Finalmente, para beneficiar Dilma surge um acordo entre Hélio Costa e um vice do PT que seria o ex-prefeito de Belo Horizonte já ostentando o título de ex-futuro vice, porque saiu da disputa, enquanto o seu grupo e grupos palacianos voltam a falar em “voto camarão”, pensando beneficiar Anastasia.

Sinceramente gostaria de entender tudo, mas não entendo nada de psiquiatria, mas é bem capaz – e aí falo de jornalismo e com base em informações de fontes seguras – que alguma coisa possa mudar. Afinal de contas, ninguém ainda desmentiu que a política é feito nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e já mudou a posição.