Quem estudou em colégio de padre ou freira, aprende já aos 8, 9 anos de idade, os chamados Dez Mandamentos da Lei de Deus. O oitavo, especificamente, diz: Não levantarás falso testemunho. Ou seja, proíbe mentir, caluniar, falar maledicências, destruir propositalmente reputações. Não cumpri-lo é pecado para os católicos, assim como o descumprimento dos outros nove mandamentos.
Pois nessa quinta-feira, 21 de outubro, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos em Brasília (CNBB), Dom Gealdo Lyrio Rocha, em entrevista publicada no G1, diz:
“Ele (Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos, na Grande São Paulo) tem o direito e até o dever de, de acordo com sua consciência, orientar seus fiéis do modo que julga mais eficaz mais conveniente. Ele está no exercício de seus direitos como bispo diocesano de Guarulhos e cada instância fala só para o âmbito de sua competência, tanto que ele não se dirigiu à nação brasileira. Este procedimento está absolutamente dentro da normalidade [distribuir panfletos contra Dilma Rousseff, a candidata do PT à presidência] no modo como as coisas da Igreja se encaminham”, afirmou Dom Geraldo.
O presidente da CNBB afirmou que não cabe à entidade “censurar” qualquer ação de bispos que se manifestem sobre política. Ele destacou que a posição nacional sempre é dada pela CNBB, mas que na diocese o bispo tem autonomia, sendo sujeito apenas à autoridade do papa. “Acima do bispo só existe uma autoridade, o papa. A CNBB não é um organismo para interferir nas dioceses, dar normas para os bispos, repreender”.
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Ele considerou positivo que o tema aborto esteja sendo discutido na eleição. Ele reconheceu que há posições “reduzidas” sobre o tema, mas afirmou que as discussões sobre “valores” não podia ficar fora da eleição. “Acho que a moeda sempre tem dois lados, se há inconvenientes de um lado, há uma vantagem enorme do outro. O tema (aborto) foi colocado em pauta e não se podia entrar em um processo eleitoral sem trazer à tona temas dessa natureza de máxima relevância”.
Nesse domingo, 23 de outubro, em entrevista publicada em O Estado de S. Paulo, com direito à chamada de capa, d. Luiz Gonzaga Bergonzini, afirma:
“O PT é o partido da mentira, o PT é o partido da morte. O PT descrimina o aborto, aceita o aborto até o nono mês de gravidez. Isso é assassinato de ser humano que não tem nem o direito de se defender”.
É do bispo Bergonzini a iniciativa de fazer 2 milhões de folhetos contra a candidata do PT, Dilma Rousseff, apreendidos pela Polícia Federal na Gráfica Pana, em São Paulo.
Dom Bergonzini tem memória seletiva. Esqueceu-se de que Dilma assumiu o compromisso de, se eleita presidente da República, não tomar a iniciativa de propor alterações de pontos que tratem da legislação do aborto no Brasil. Toda a imprensa divulgou.
Diante das inverdades de Dom Bergonzini e das ações antidemocráticas da ala mais conservadora da Igreja Católica, inclusive de elementos ligados à Opus Dei, esta repórter enviou neste início de noite à CNBB um e-mail com três perguntas óbvias:
1) Bispos católicos podem mentir à população brasileira nestas eleições presidenciais?;
2) Ao agir assim, eles não estariam infringindo o oitavo mandamento;
3) Mentir não seria pecado no caso deles?
Ao bispo Bergonzini, por que dois pesos e duas medidas em relação à questão do aborto? E já que vive atirando pedras em Dilma, sugiro-lhe a leitura da reportagem Hipocrisia na campanha eleitoral: “Ela é favor de matar criancinhas” — Entrevista com Sheila Ribeiro. AQUI, pode ouvir o áudio de Sheila Ribeiro, ex-aluna de Monica Serra.