Guilherme Pupo, no Valor Econômico, em 23.08.2010
Mônica Serra, mulher do candidato à presidência José Serra (PSDB) entrou de salto alto na campanha corpo a corpo com a população. Foi com uma bota que ela começou seu trabalho em Curitiba, na sexta, em reunião com lideranças comunitárias, mas no segundo compromisso, depois de alguns minutos de caminhada em um bairro da periferia da capital paranaense, recebeu uma sandália sem salto que estava no carro. E não entendeu quando a troca de calçado foi alvo de fotógrafos que a acompanhavam.
A passagem de Mônica por Curitiba marca o novo estilo que ela quer adotar para tentar ganhar votos para o marido. Psicóloga e professora aposentada, a discreta esposa de Serra irá esta semana a capitais do Nordeste. Nega que seja uma estratégia motivada pela existência de duas mulheres na disputa, Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV), e explica sua motivação. “A questão do gênero está superada”, diz. “Os eleitores de Serra precisam saber que ele não chega sozinho, mas com a família e seus princípios e valores”.
Goiás e Minas também já foram visitados por Mônica recentemente, de maneira discreta. Em Curitiba, ela começou o dia em café da manhã com representantes de todos os bairros da cidade, ao lado de Fernanda Richa, mulher do candidato tucano ao governo, Beto Richa, e outras lideranças femininas que citaram diversas vezes a participação de Serra na chegada dos genéricos ao país. Ao pegar o microfone, disse estar emocionada. “Pensei: não vou conseguir falar”, contou, pouco antes de criticar o programa Bolsa Família. “As pessoas não querem mais trabalhar, não querem assinar carteira e estão ensinando isso para os filhos”, falou. Ela lembrou a origem humilde do marido e a importância que a mãe dele teve ao defender o desejo que Serra tinha de estudar.
Antes de o microfone voltar para as mãos de Fernanda Richa, que corrigiu o discurso contra o Bolsa Família e afirmou que o programa será mantido, mas por um período, até que a pessoa tenha promoção social, Mônica entrou no tema religião. Perguntou quantos eram católicos na plateia, concluiu que era a maioria e emendou: “Nas intenções, peçam bênção para o Serra e o povo brasileiro”. Como ela nasceu no Chile, carrega o sotaque de seu país, mas falou com as pessoas e posou para fotos com adultos e crianças, usando um colete azul com o nome do marido bordado em amarelo.
No bairro Vila Esperança, onde foi recebida com foguetório, Mônica caminhou ao lado de Lula, apelido que o líder local Odair Rodrigues ganhou devido a uma semelhança física e de voz com o presidente, em quem votou nas últimas eleições. Inicialmente, Lula disse ao Valor que estava pensando em votar em Dilma. “Sou sincero”, afirmou. Minutos depois, mudou a fala. “A gente vai com o Serra, sim. Estava brincando.” Como os candidatos fazem, Mônica parou nos portões das casas para conversar com os moradores. “Não conheço o Serra, só por foto. Não vejo televisão”, disse a dona de casa Maria Aparecida Oliveira. A mulher de Serra não ouviu conselhos para evitar proximidade com rapaz que estava com cachorro pit bull e, alguns passos depois, experimentou uma cadeira de balanço. Questionada se o marido havia pedido sua participação na campanha, ela respondeu: “Ninguém pede. É responsabilidade cidadã”. Sobre o tom da campanha, negou que esteja agressiva. “Está propositiva.”