O fracasso da educação
Publicado no Jornal OTEMPO em 22/12/2010
POR EULÀLIA JORDÀ-POBLET
Médica
O mal-estar na educação nesta modernidade avançada advém do fato de que uma geração já não se responsabiliza pela educação da outra que lhe sucede. As gerações mais novas são levadas a pensar que são as primeiras, as fundadoras do mundo, e, por isso, agem como se tudo lhes fosse devido.
O repasse da cultura, assessorado pela disciplina, que levaria ao adormecimento das piores tendências da criança em prol do que ela possui de melhor, não está sendo, em definitivo, instituído. Sem disciplina, contrariamente ao que proclama a pedagogia associada ao mundo do mercado, no qual o aluno é apenas um cliente do Estado ou do setor privado, perde-se a possibilidade de que o estudante compreenda as leis e suas coerções.
Isso quer dizer que o dispositivo disciplinar é fundamental para fazer surgir o sujeito crítico - e autocrítico: aquele capaz de distinguir as diferenças e as consequências de cada ato seu.
A "revolução pedagógica" ocorrida de 1960 para cá parece, segundo Dany Robert Dufour, um "talk-show" televisivo no qual cada um pode dar "democraticamente" sua opinião. Ora, nada como destituir as verdades para transformá-las em meras e "inofensivas" opiniões. Quem nada sabe se equipara àquele que muito sabe, ou seja, todos saem nivelados pela mediocridade, pela aversão ao esforço, à paciência, à concentração, enfim, ao aprendizado de um discurso mais sofisticado, mais elaborado.
É preciso entender que, onde não há condições para que se desenvolva uma relação professor-aluno, poderá emergir um aluno atraído para a violência, uma vez que não discernirá entre a lei e a não-lei, tanto a real quanto a simbólica.
Se esses jovens forem "fabricados" para não perceberem o sentido das coisas, se lhes for roubada pela omissão, intencional e política, essa experiência fundamental, eles se tornarão cada vez mais violentos, e retornarão à sociedade com a velocidade dos bumerangues.
A esta altura seria um erro acreditar que os atos de violência nas escolas - isso sem contar as inúmeras incivilidades que ocorrem todos os dias - são e serão casos isolados. Desde o garoto em Kobe, no Japão, que assassinou três outras crianças, decapitando uma delas, em 1998; aos alunos no Espírito Santo que jogaram uma professora do segundo andar porque ela os "perseguia"; passando pelo aluno belo-horizontino que matou a facadas seu professor por motivo torpe; tudo leva a crer que há um encadeamento "ad infinitum".
O ponto-chave está no fato de que a educação passou a ser o braço executivo do mercado. O mercado passou a ditar, inclusive nas universidades, o que ele quer, do jeito que quer, para, em breve, ser ele a educar também. A lógica é a de todos terem pleno acesso, mas ao nada. Os estudantes - pobres estudantes! - serão treinados como animais de circo a participar da grande festa que celebra o vazio. Devem, sobretudo, no vácuo da ausência de pensamento, aprender a consumir.