Exm.ª Sr.ª Prefeita de Barbacena
Srª. Danuza Bias Fortes,
Movido por um sentimento misto de tristeza e de indignação, eu resolvi
dirigir-lhe esta mensagem a respeito da nossa cidade.
Antes, porém, eu gostaria de me apresentar: sou um cidadão comum, residindo
aqui há trinta e quatro anos. Sou médico, oficial da aeronáutica, na
reserva remunerada e exerço ainda a minha profissão em meu consultório. Eu
nasci na cidade do Rio de Janeiro, aonde estudei, me formei, prestei
concurso para o quadro de saúde de oficiais da aeronáutica e em 1976, aqui
cheguei, designado pela Diretoria De Saúde da Aeronáutica para servir na
Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR). Eu tive o imenso privilégio de
servir na EPCAR durante vinte e um anos e em 1997, passei para a reserva
remunerada da aeronáutica.
Eu aprendi a amar esta cidade e a me orgulhar dela, tanto que eu hoje me
julgo mais mineiro do que carioca. Uma parte significativa da minha família
nasceu aqui: minhas duas filhas (uma é jornalista e a outra é
fisioterapeuta), a minha neta e sobrinha. Aqui, construí a minha casa, o meu
ciclo de amigos, clientela, enfim, criei raízes.
Mas, a "minha cidade", pobre dela, como tem sofrido ao longo de todos esses
anos... Eu testemunho o progresso de muitas outras localidades, não muito
distantes daqui e, ela, ao contrário, só tem regredido, tornando-se feia,
decadente, mal cuidada e mal amada por aqueles que poderiam fazer muito por
ela e nada fazem. Cidade outrora denominada Cidade das Rosas, hoje, poderia
muito apropriadamente ser chamada de: "cidade dos buracos ou cidade dos
matagais ou cidade dos vazamentos ou cidade das praças e jardins (se é que
eles existem) esquecidos ou cidade da feiúra".
Eu sinto muito me referir a Barbacena desta forma, município que V.
Ex.ª administra. Mas, eu não vejo outra maneira de fazê-lo. Pois, é só dar
uma pequena saída da cidade para outros locais que, ao retornar, eu me sinto
constrangido e triste, até mesmo deprimido, com o contraste visual com o
qual me deparo na volta. A auto-estima fica em baixa e eu me questiono:
porque que aqui as coisas nunca mudam, só regridem?
As nossas praças e jardins, aonde os nossos velhos e crianças poderiam ter o
seu lazer, como em qualquer local do mundo, estão totalmente abandonadas,
mato alto, decadentes pela ação do tempo e da falta de manutenção. Aliás,
aqui em Barbacena, eu não vejo esse tipo de ação: MANUTENÇÃO - parece que os
reparos, quando acontecem, são para sempre... Os matagais proliferam de tal
forma que há ruas que poderão até causar acidente de trânsito, pois o mato
já atrapalha a visão dos veículos que vêm em sentido contrário (R. Dr.
Cláudio), aliás, bem próxima da prefeitura. Até mesmo as cercanias da sede
do governo que, geralmente em outras cidades costumam ser bem cuidadas, com
ruas bem pavimentadas, gramas aparadas e praças bem cuidadas, por aqui o que
se vê é contrário: sujeira, poluição visual acarretada pelo abandono e
descaso. Eu me pergunto: será que a secretaria municipal de obras
públicas não dispõe, sequer, de uma equipe para realizar a capina? Ou será
que também depende do repasse de verbas? Ou será falta de vontade ou de
conhecer a sua cidade? Pelo que eu sei, na atual gestão, diferentemente da
anterior, os assessores e secretários são daqui, e não de Niterói ou de Juíz
de Fora e que, portanto, não tinham o sentimento de serem barbacenenses.
Recentemente, eu tomei conhecimento por intermédio de uma emissora local,
que o Bairro das Mansões, teve o seu nome trocado para Bairro Urias Barbosa
de Castro, por um decreto municipal, homenageando de uma forma inequívoca,
um verdadeiro cidadão barbacenense que criou a sua empresa, gerou empregos
(coisa rara na cidade) e sempre foi muito querido pela comunidade. Pois
bem, V. Ex.ª tem conhecimento do estado em que se encontra a praça que leva
o mesmo nome do empresário? Isso, para não falar da praça do meu bairro,
para não parecer que eu estou reivindicando pelo menos a capina para que o
meu neto possa brincar nela. E olha que eu sou vizinho de um dos seus
secretários...
O fato é que, por qualquer via que se adentre ou saia da cidade, o visual é
desalentador: ruas e avenidas esburacadas, mato crescendo junto aos
meio-fios, matagais espalhados, jardins abandonados e sujeira. O pior é que
eu me sinto constrangido ao trazer familiares e amigos aqui e ter que ficar
dando justificativas para as perguntas que me fazem: o que está acontecendo
com a cidade?
Por aqui, não se escuta a expressão QUALIDADE DE VIDA, comumente falada e
buscada em outros logradouros. Não há locais como ciclovias ou mesmo vias
próprias para os praticantes de corridas ou caminhadas. Os locais, é claro
que eles existem, mas o que falta...? O jeito é correr riscos pela Estrada
do Campolide ou nas calçadas esburacadas correndo-se riscos de quedas. A Via
Sanitária poderia muito bem ser adequada para esse fim, juntamente com a Rua
Bahía, quiçá a Linha Oeste. Mas, a nossa secretaria de esporte e lazer é
muito mais voltada para outros objetivos.
O nosso trânsito está caótico e não se vislumbra nenhuma iniciativa em
querer se desfazer este nó. O número de veículos cada vez cresce mais, a
cidade não apresenta projetos de adequação à demanda e o que se vê está aí
no nosso dia-a-dia. A R. Mal. Floriano Peixoto, hoje , é uma verdadeira
"roleta russa" para a travessia de idosos e crianças. Ponto de convergência
de veículos, área hospitalar, escolar e de feira livre aos sábados,
encontra-se à mercê dos veículos que trafegam em velocidades excessivas,
trânsito pesado e constante, mas não há a menor sensibilidade dos
responsáveis em minorar um pouco os riscos de tal logradouro; seja pela
colocação de quebra-molas, de semáforo em local adequado ou de controle
policial em momentos de pico. E olha que Barbacena é sede de um batalhão da
polícia militar...Há algum tempo, eu elaborei um documento e o encaminhei ao
vereador líder do governo na câmara, o qual me respondeu sobre os projetos
em pauta. Mas, até agora, nada foi iniciado e seria bom que houvesse pressa
para evitar uma tragédia maior que possa estar em curso.
Excelência, apesar de todo este meu manifesto depreciativo, mas realista,
comprovado pela opinião de muitos outros cidadãos aqui natos e residentes,
eu sou seu eleitor nas duas oportunidades em que se candidatou ao cargo,
além de tê-la escolhida para vereadora no passado. Talvez por isso é que eu
me sinto muito mais decepcionado com o que está ocorrendo. Por não ser
daqui, eu me sinto totalmente à vontade em poder me expressar, além do fato
de hoje vivermos num país de expressão livre. Mas, quando V. Ex.ª foi
eleita e bem eleita, eu tive a esperança de tempos melhores, não apenas de
uma cidade bonita e limpa, mas, progressista, com empregos para que os
nossos filhos não precisassem abandoná-la, com atenção à saúde, educação,
lazer e segurança. Na comemoração de sua eleição, afinal a primeira mulher a
dirigir os destinos do município, um jornalista da cidade, e seu defensor
ferrenho, pôs mais otimismo ainda aos novos tempos que estavam por vir. Eu
ainda posso ouvir os ecos das suas palavras ao falar a seu respeito. Até
hoje, em seu programa diário através de uma emissora local, ele fala com
otimismo invejável, parecendo que ele não mora ou não circula por aqui. Fala
sobre o seu trânsito livre junto ao poder federal e do que isso representa
de bom para a cidade. O fato é que parece que isso tudo é fruto do
seu imaginário... Eu lhe enviei um e-mail recentemente, e ele sequer acusou
pelo menos o seu recebimento. Eu reiterei o envio e nada.... Eu tenho uma
filha jornalista, como ele, e que, eticamente, responde a todas as
correspondências que lhe são dirigidas. Talvez ele não tenha mesmo
argumentação para o que é evidente. Eu estou ciente das dificuldades pelas
quais a administração passa, sobre as "heranças" que lhe foram deixadas pela
equipe anterior. No entanto, tudo isso já era sabido ou pelo menos imaginado
e também faz parte do desafio que é governar. Estas dificuldades, aliás, não
são exclusivas de Barbacena. Então, eu me pergunto mais uma vez: porque que
as coisas não melhoram por aqui, só pioram?
Antes de finalizar, eu quero externar a V. Ex.ª a minha expectativa de que
dias melhores poderão realmente vir, apesar de que, em pelo menos mais de um
ano de gestão, algumas coisas contidas nesta matéria já poderiam estar sendo
sanadas. O sonho - que pode se tornar realidade - é o de termos uma cidade
da qual nos orgulhemos em apresentá-la aos seus visitantes, que seja
aprazível, limpa e que deixe saudades naqueles que dela partem. E ela tem
potencial para isso! V. Ex.ª pode ter a certeza de que o exercício da
cidadania é muito mais bem praticado quando o cidadão percebe a preocupação
daqueles que os dirige. Basta dizer, o quão ficamos gratos quando uma
"operação tapa-buracos" está em andamento... E olha que até isso está
ficando cada vez mais difícil de acontecer!
Aproveito a oportunidade para apresentar a V. Ex.ª os protestos da minha
estima e consideração,
Dr. Paulo Roberto Daher de Deus
R. Oscar José de Campos, 70 - Santa Tereza II