segunda-feira, 19 de abril de 2010

Eduardo Guimarães: Chega de Papo




Passei o último domingo debruçado sobre a representação que o Movimento dos Sem Mídia fará à Justiça Eleitoral nesta semana e, assim, não acompanhei muito atentamente a abrangência da ofensiva midiática pró-Serra que se abateu sobre o país de sexta-feira para cá. Só agora, lendo o competente trabalho do Luiz Carlos Azenha neste fim de semana, no seu Viomundo, é que me dei conta do que perdi. 

Da pesquisa Datafolha para a capa da Veja com Serra, imitando a capa da Time com Barack Obama, depois a vinheta da Globo, que, a pretexto de comemorar os 45 anos da emissora, imita o slogan da campanha de Serra, “O Brasil pode mais”, e isso a cerca de seis meses da eleição, não acho que exista muito mais o que constatar sobre o uso ilegal até de concessões públicas em prol da candidatura tucana.
Fico imaginando como os barões da mídia e seus leões-de-chácara se divertem em seus convescotes comentando sobre esse interminável espernear da blogosfera, a qual só uma fração minúscula da sociedade lê, enquanto o PT se esconde, trêmulo, em algum canto, sem coragem de denunciar pesquisas falsificadas ou campanha eleitoral ilegal da mídia pró-Serra.
O PT deveria estar fazendo o que fará uma ONG sem dinheiro, presidida por um comerciante que, nas horas vagas, tenta prestar um serviço jornalístico de interesse público custeado com seus parcos recursos financeiros, no qual investe tempo que deveria usar para sobreviver com menos dificuldades. Ou seja: quem deveria representar à Justiça Eleitoral para investigar as pesquisas seria o PT, não o Movimento dos Sem Mídia. 

A tal propaganda de Serra disfarçada de vinheta comemorativa da fundação da Globo deveria ser objeto de declarações fortes dos líderes e da assessoria jurídica da campanha de Dilma, mas essa turma está em transe e apavorada com a onda midiática pró-Serra, feita por um grupo político-partidário-empresarial que zomba da lei e da sociedade.
Minha vontade é a de mandar tudo isto para o inferno e ir cuidar da minha vida, mas não consigo. Seria uma atitude egoísta e burra porque não estou defendendo o PT ou Dilma ou Lula, mas a democracia e o futuro de meus filhos e netos, para que vivam em um país em que cada eleição não se transforme nesse mar de ilegalidades, manipulações e fraudes que estamos vendo. 

Assim, chega de ficar esperneando, chega de chororô. Tenho certeza de que essa pesquisa Datafolha, tanto quanto a anterior, é uma enorme fraude, mas não posso provar. Assim, haverá que investigar TODAS as pesquisas.

A matéria do blog dos Amigos do Presidente Lula revela um indício, mas não prova nada. Por isso, incluiremos sua denúncia na representação tanto quanto as denúncias da Folha contra os institutos Sensus e Vox Populi. A lisura da eleição requer uma investigação e uma auditoria especializada sobre as denúncias dos dois lados e é isso o que o MSM pedirá à Justiça.
Estando as pesquisas sob investigação judicial, acredito que as próximas que Datafolha e Ibope fizerem terão que levar em conta o risco de cometerem um crime federal. Desafiarão a Justiça? Há que pagar para ver. Se acontecer, a sociedade terá que se mobilizar contra essa mídia como nunca fez, com sindicatos, partidos e movimentos sociais indo às ruas para protestar exclusivamente contra a ditadura midiática. 

Continuamos – eu, o dr. Donizeti e outros companheiros – trabalhando de forma frenética na fundamentação jurídica da representação sobre as pesquisas. Ainda teremos que ver como faremos para protocolá-la, porque, em princípio, terá que ser feito em Brasília. 

Aliás, vale explicar que a peça não será dirigida diretamente à Justiça Eleitoral, mas, sim, ao procurador-geral Eleitoral, que é o procurador-geral da República, o doutor Roberto Gurgel. 

Devido aos afazeres profissionais dos diretores do Movimento dos Sem Mídia e devido ao dispêndio de recursos com passagem de avião etc. que haverá se o protocolo tiver que ser feito em Brasília, estamos estudando se um de nós terá como ir ou se conseguiremos protocolar a representação aqui em São Paulo mesmo.
Além disso, quarta-feira será feriado e hoje e amanhã a diretoria do MSM só poderá trabalhar à noite na representação, de forma que estamos imaginando materializá-la na Justiça, no máximo, até sexta-feira, com boas chances de ser na quinta.

É um passo, ao menos uma tentativa de se imprimir um pouco de justiça a uma campanha eleitoral para presidente que promete ser uma das mais injustas que já se viu, comparável às de 1989, de 1994 e de 1998, quando a mídia foi mais atuante contra Lula do que Collor e FHC, os quais puderam contar com uma ajuda midiática totalmente ilegal sem que a Justiça Eleitoral dissesse um A.

Mas estamos em 2010 e o Brasil avançou muito. Se não se pode apostar no partido que deveria representar a parcela da sociedade que integro e que clama por justiça – e não em benefício de grupos políticos, mas da democracia –, há que acreditar em alguma coisa. É o que fará o Movimento dos Sem Mídia apostando na Justiça para coibir essa vergonha, essa imundice, essa ilegalidade que essas empresas de mídia, mancomunadas com Serra e seu partido, estão praticando.

Não agüento mais ficar só constatando, constatando e constatando essa imoralidade tucano-midiática sem fazer nada. Chega de papo, é hora de todo cidadão decente agir em defesa de uma eleição justa, na qual todos tenham as mesmas chances e recursos para que o Brasil eleja presidente aquele que a maioria do eleitorado quiser e não o escolhido de meia dúzia de donos de jornais, rádios, tevês e portais de internet.