A campanha do faraó e do afilhado tem o apoio de vários e conhecidos cantores e compositores mineiros. O que é uma pena. Que eles não quisessem apoiar nenhum dos dois candidatos com maiores chances eleitorais, seria compreensível; mas, fazer a opção que fizeram demonstra grande alienação e distanciamento da realidade dos mineiros de baixa renda.
Tal prática se repete também com os comentaristas e jornalistas da grande mídia. Espertamente, estes setores foram privilegiados pelos recursos públicos, ao contrário de educadores e demais servidores públicos, que foram castigados durante oito anos de choque de gestão.
Mas, os nossos cantores não estão nem aí para a nossa realidade. Não vimos nenhum deles se oferecendo para apoiar a nossa maravilhosa revolta dos 47 dias. E em alguns casos, nem se pode alegar razão de sobrevivência, pois são artistas consagrados, que sobreviveriam independentemente de verbas do governo. O que revela ainda mais o distanciamento e a alienação destes artistas, que, tal como os jogadores de futebol mais famosos e outros tipos, vivem num outro mundo.
Nem tenho o direito de cobrar nada, nem coerência nem nada destes artistas, pois eles não professaram compromisso ético com as lutas sociais e fazem seu trabalho de forma a sustentar uma carreira, que sabemos, é de difícil sobrevivência no Brasil. Poetas, cantores e escritores neste país são geralmente maltratados. Por aqui privilegiam bandidos de colarinho branco, espertalhões e outros tipos de puxa-sacos. Mas, ao apoiar políticos ligados às políticas neoliberais, tais artistas acabam contribuindo para manter e reproduzir a realidade que criticamos.
Essa realidade algum dia pode mudar, quando a sociedade também mudar. Na época da ditadura, por exemplo, quando havia uma efervescência política entre os estudantes, o artista que fizesse apologia dos governos ditatoriais ficava "queimado". O dia em que estes artistas de hoje forem cobrados nos shows pela postura que assumem pode ser que pensem melhor nas atitudes políticas que tomam e que contribuem para a manipulação da grande massa.
Por enquanto eles estão a salvo pelo escudo protetor da grande mídia, além da generosidade dos cofres abertos para eles pelos governantes de plantão. Mas, a história é assim: uma hora a onda vai para um lado, outra hora volta sobre nós, ou sobre nossas atitudes. E cada um terá que responder por aquilo que fez ou deixou de fazer.