Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises
Por Geraldo Elísio
“No Brasil a democracia é uma plantinha muito tenra”. – Otávio Mangabeira
Será que mais uma vez o presidente Lula não sabe? Será que “The Guy – O Cara de Pau” não sabe que a Polícia Federal anda de novo a perseguir o delegado Protógenes Queiroz (?) um homem que hoje encarna o ideal brasileiro de um padrão ético, moral e transparente.
Será? Vivemos um novo estado de exceção? Qual a possível influência do banqueiro condenado Daniel Dantas, aquele que recebeu dois habeas corpus, em 48 horas, do então supremo presidente do Supremo, Gilmar Dantas, (segundo o jornalista Ricardo Noblat) sobre o governo e a Polícia Federal?
Será, um delegado honesto e ínclito, que tem o respeito do povo – as autoridades superiores deveriam ter assistido como ele foi recebido no aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, em uma de suas primeiras visitas à capital dos mineiros, pode ser transformado em mal, porque o banqueiro-condenado “só teme a primeira instância” e desdenha dos tribunais superiores? Recepção digna de herói nacional, “pela coragem de combater o crime do colarinho branco. O senhor prende bandido graúdo”, lhe disse um morador.
Absurdo dos absurdos. Quinta-feira (29), Protógenes estava em Lavras, sudoeste de Minas Gerais, pronto a receber uma homenagem da Associação dos Jornalistas do Serviço Público de Minas, presidida pelo jornalista Cláudio Vilaça. Entre outros homenageados, um patrimônio moral da vida pública brasileira, o ex-ministro Almino Afonso, secretário de Relações Internacionais do governo de São Paulo, o jornalista José Maria Rabelo, de larga tradição na imprensa brasileira, o diretor responsável do Novojornal, Marco Aurélio Carone, juízes federal e de primeira instância, parlamentares, mestres universitários, enfim muitos homenageados por serviços prestados à liberdade de expressão. “Meninos eu vi!”. Estava também na aprazível Lavras. Sem merecer, fui homenageado também, o que me orgulha.
Enquanto isto, policiais federais, em grupos de dois, fizeram três sucessivas tentativas de entregar notificações na casa do delegado Protógenes Queiroz, em Guarujá, São Paulo. Uma filha de criação foi ameaçada no melhor estilo com o qual se ameaçam bandidos. Sem mandado judicial ameaçaram invadir a casa dele. Houve um confronto entre os policiais e o zelador. Vantagem para o zelador que estava do lado da Lei.
E o que tem a dizer a Polícia Federal do Dr. Correa, que ainda não achou o áudio do grampo? São cinco novos procedimentos disciplinares.
No total, Protógenes responde a mais de 20 “procedimentos disciplinares”, desde que, por duas vezes, prendeu o banqueiro condenado Daniel Dantas. “Procedimento # 364 é por conta de um discurso num ato do MST. Procedimento # 362, por uma entrevista à revista Caros Amigos. Procedimento # 363, por mencionar fatos não confirmados, dúbios, no relatório da Operação Satiagraha. Procedimento # 310, por causa da presença de jornalistas na Operação Satiagraha, matéria que está sob julgamento no Forum Criminal de São Paulo. E, por último o Procedimento # 311 pelo suposto compartilhamento de dados com a ABIN.
Estranho isso ocorrer no mesmo instante em que transações comerciais sob suspeitam ganham desdobramentos, ou seja, ilícitos novamente na ordem do dia para serem negociados. O que temem? Que o delegado Protógenes Queiros possa ter outros documentos mais comprometedores ainda?
E as entidades nacionais e internacionais ligadas aos direitos humanos, o que têm a dizer sobre tais violências? Ou se preocupam com o bem estar do banqueiro-condenado Daniel Dantas?
Presidente Lula, encastelado no Planalto, talvez o senhor não saiba que uma parcela da voz rouca das ruas tende a acreditar que o primeiro filho, Lulinha Telemar tenha ligações com Daniel Dantas. E nem sempre são dados créditos às explicações que damos de que isto não é verdade. Que também não é verdade que a PF foi subornada por Dantas. Cada um tem direito de pensar o que quiser. Eu no momento penso na frase de Mangabeira. Mesmo integrando o G-20, assumindo posições de plano mundial, o Brasil ainda é uma democracia em forma de “plantinha tenra”.
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